A Evolução do Conceito de Privacidade
Em meio a grandes mudanças no relacionamento humano provocadas pelas novas mídias, prevalece o discurso de que os jovens têm pouco ou nenhum cuidado com sua privacidade, pois, além da crescente tendência de disponibilizar muito conteúdo privado em mídia social, observa-se o crescimento do uso do celular para troca de informações de natureza íntima.
O envio de mensagens de texto (“texting”, em inglês) tem se consolidado como o principal meio de comunicação entre adolescentes americanos, suplantando inclusive o contato face-a-face, o email, a mensagem instantânea e a chamada telefônica, conforme relatório recente do Pew Internet & American Life Project (“Teens and Mobile Phones”, por Amanda Lenhart, Rich Ling, Scott Campbell e Kristen Purcell, 20/04/2010). Baseado num universo de 800 adolescentes de 12 a 17 anos de idade, o levantamento foi realizado em 4 cidades dos EUA entre Junho e Outubro de 2009 pela Princeton Survey Research Associates International, e concluiu que nos últimos 18 meses o uso de texting cresceu de 38% dos adolescentes fazendo uso diário desse modo de comunicação em Fevereiro de 2008 para 54% em Setembro de 2009. A quantidade de mensagens enviadas também aumentou: metade dos adolescentes enviam pelo menos 50 mensagens de texto por dia, e um terço deles envia mais de 100 textos diariamente. E à medida que o texting se incorpora à vida social do adolescente, pais e educadores se vêem cada vez mais preocupados com o papel do celular até mesmo na vida sexual de adolescentes e jovens. Em um outro relatório do Pew Internet & American Life Project (“Teens and Sexting”, por Amanda Lenhart, 15/12/2009) verifica-se que 4% dos adolescentes americanos na faixa dos 12 aos 17 anos dizem já ter enviado imagens sexualmente sugestivas de nus ou seminus através de sistemas de envio de mensagens de texto, uma prática conhecida como “sexting” (uma combinação de “sex” e “texting”). Além do mais, 15% dizem já ter recebido imagens dessa natureza de alguém que conhece através da comunicação por mensagens de texto.
Até mesmo o flerte já se processa através das novas mídias: adolescentes interessados em relacionamentos românticos têm feito uso das novas tecnologias de comunicação, seja mensagem instantânea, rede social ou telefonia móvel, de modo a vencer a barreira inicial do processo de conquista amorosa. Ainda há o bônus de se poder verificar a possível comunhão de interesses através da consulta ao perfil do objeto da conquista numa rede social como Orkut, MySpace ou Facebook. A natureza assíncrona dessas novas mídias permite ao adolescente compor mensagens de modo que pareçam casuais, numa prática do que poderia se chamar de “casualidade controlada”.
Aliado ao fato que a percepção do chamado “namoro online” vem se modificando, e aos poucos deixa de ser algo totalmente estranho, surge uma nova tendência: com os chamados “serviços baseados em localização”, a telefonia móvel em conjunto com a tecnologia das redes sociais dá nova vida ao namoro online. Imagine uma rede social acessível pelo celular e que permita ao seu usuário identificar, compartilhar fotos, sons e imagens instantaneamente, e entrar em contato com pessoas solteiras com interesses comuns que estejam nas proximidades, seja numa conferência, num bar, no campus de uma universidade ou mesmo num evento esportivo. Segundo Jason Kincaid em artigo no TechCrunch (“Skout Studies What Happens When Dating Goes Mobile“, 23/12/2009), uma pesquisa conduzida pela Skout, uma empresa de serviços de namoro online com um forte componente de telefonia móvel (inclusive com aplicativo para o iPhone), procurou aferir o quão hesitantes as pessoas se sentem em passar da troca de mensagens por celular para o encontro olho no olho. Com base numa amostra de 1000 usuários entre 20 e 30 anos de idade, perfeitamente divididos em termos de gênero, o levantamento concluiu que: 51% dos entrevistados vieram a conhecer uma outra pessoa solteira no mundo real com a qual haviam contactado através de seu iPhone; 69% se sentem à vontade em conhecer pessoalmente alguém que conheceram pelo iPhone; 40% estão fazendo uso de um serviço de namoro por celular enquanto se encontram em bares, clubes e restaurantes; 20% utilizam o serviço apenas quando estão fora de casa; 35% usam o serviço no trabalho.
Aliado ao fato que a percepção do chamado “namoro online” vem se modificando, e aos poucos deixa de ser algo totalmente estranho, surge uma nova tendência: com os chamados “serviços baseados em localização”, a telefonia móvel em conjunto com a tecnologia das redes sociais dá nova vida ao namoro online. Imagine uma rede social acessível pelo celular e que permita ao seu usuário identificar, compartilhar fotos, sons e imagens instantaneamente, e entrar em contato com pessoas solteiras com interesses comuns que estejam nas proximidades, seja numa conferência, num bar, no campus de uma universidade ou mesmo num evento esportivo. Segundo Jason Kincaid em artigo no TechCrunch (“Skout Studies What Happens When Dating Goes Mobile“, 23/12/2009), uma pesquisa conduzida pela Skout, uma empresa de serviços de namoro online com um forte componente de telefonia móvel (inclusive com aplicativo para o iPhone), procurou aferir o quão hesitantes as pessoas se sentem em passar da troca de mensagens por celular para o encontro olho no olho. Com base numa amostra de 1000 usuários entre 20 e 30 anos de idade, perfeitamente divididos em termos de gênero, o levantamento concluiu que: 51% dos entrevistados vieram a conhecer uma outra pessoa solteira no mundo real com a qual haviam contactado através de seu iPhone; 69% se sentem à vontade em conhecer pessoalmente alguém que conheceram pelo iPhone; 40% estão fazendo uso de um serviço de namoro por celular enquanto se encontram em bares, clubes e restaurantes; 20% utilizam o serviço apenas quando estão fora de casa; 35% usam o serviço no trabalho.
A verdade é que, para o jovem ou adolescente contemporâneo, as novas mídias propiciam um novo ponto de encontro para suas práticas íntimas, ponto esse que permite que a intimidade se torne ao mesmo tempo mais pública e mais privada. O jovem pode se encontrar, flertar, namorar, tudo isso fora do alcance da vigilância de pais e adultos, ao mesmo tempo em que tudo se passa à vista de seus amigos online.
A reação do adulto à exposição de tanto conteúdo pessoal de jovens e adolescentes no espaço virtual é normalmente traduzida em grande preocupação com o risco devido à possível ação de marqueteiros, pedófilos, e futuros empregadores, e, naturalmente, leva a soluções e políticas que presumem que o jovem não disponibilizaria tais informações caso estivesse ciente das conseqüências. Entretanto, um estudo recente do Berkman Center for Internet and Society, Harvard (“Youth, Privacy and Reputation - Literature Review”, por Alice E. Marwick, Diego Murgia-Diaz e John G. Palfrey Jr., Abr 2010), baseado numa detalhada análise da literatura sobre o tópico, conclui que o jovem tem sim uma grande preocupação com sua privacidade, sobretudo com relação a pais e professores terem acesso a suas informações pessoais. Segundo os autores, o jovem de hoje já é intensamente vigiado em casa, na escola e em público por uma gama de tecnologias de monitoração, mas que tanto as crianças quanto os adolescentes desejam manter íntegros e protegidos seus próprios espaços de socialização, exploração e experimentação, longe dos olhos dos adultos. A disponibilização online de conteúdo pessoal faz parte do processo de auto-expressão, de conexão com os pares, de socialização e crescimento da popularidade, e da própria ligação com amigos e membros de grupos de pares.
O fato é que para muitos jovens de hoje, não apenas a socialização, o flerte, a fofoca, a construção de relacionamentos, e até mesmo o “fazer nada” se dá também no mundo virtual. O compartilhamento de informações em mídias sociais serve para reforçar as relações de confiança dentro dos grupos de pares. “A idéia de duas esferas distintas, o ‘público’ e o ‘privado’, é, sob vários aspectos, um conceito ultrapassado para o jovem de hoje. Muitos dos estudos sobre privacidade online se concentram no risco, ao invés de no entendimento da necessidade de espaços privados para os jovens onde eles possam socializar longe do alcance dos olhos dos pais e dos mestres. Essas aparentes contradições demonstram como entendimentos de risco, espaço público, espaço privado, informações privadas, e o papel da internet no dia-a-dia difere entre crianças, adolescentes, pais, professores, jornalistas, e acadêmicos”, concluem os autores.
Sabemos muito pouco sobre as diferenças entre as práticas e as atitudes do jovem e do adulto diante do conceito de privacidade, e essa certamente é uma avenida imensa aguardando ansiosamente por ser explorada.
Ruy José Guerra Barretto de Queiroz, Professor Associado, Centro de Informática da UFPE
Ruy José Guerra Barretto de Queiroz, Professor Associado, Centro de Informática da UFPE
Investimentos e Notícias (São Paulo), 05/05/2010, 01:04hs, http://www.investimentosenoticias.com.br/ultimas-noticias/artigos-especiais/a-evolucao-do-conceito-de-privacidade.html
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